21.3.11

1.2.11

Recado

ouve-me
que o dia te seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher
alimento suficiente para a tua morte


vai até onde ninguém te possa falar
ou reconhecer - vai por esse campo
de crateras extintas - vai por essa porta
de água tão vasta quanto a noite


deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te
e as loucas aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se na vertigem do voo - deixa
que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura
do teu breve coração - ouve-me


que o dia te seja limpo
e para lá da pele constrói o arco de sal
a morada eterna - o mar por onde fugirá
o etéreo visitante desta noite


não esqueças o navio carregado de lumes
de desejos em poeira - não esqueças o ouro
o marfim - os sessenta comprimidos letais
ao pequeno-almoço



Al Berto, Horto de Incêndio

3.1.11



Espero que este ano seja ano de mudanca... cada dia preenchido com tudo o que e possivel preencher... de bom de mau...

31.10.10

lembra-te

Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos
Mario Cesariny

19.9.10

Segredo


Esta noite morri muitas vezes, à espera
De um sonho que viesse de repente
E às escuras dançasse com a minha alma
Enquanto fosses tu a conduzir
O seu ritmo assombrado nas trevas do corpo,
Toda a espiral das horas que se erguessem
No poço dos sentidos. Quem és tu,
Promessa imaginária que me ensina
A decifrar as intenções do vento,
A música da chuva nas janelas
Sob o frio de Fevereiro? O amor
Ofereceu-me o teu rosto absoluto,
Projectou os teus olhos no meu céu
E segreda-me agora uma palavra:
O teu nome – essa última fala da última
Estrela quase a morrer
Pouco a pouco embebida no meu próprio sangue
E o meu sangue à procura do teu coração.
Fernando Pinto Amaral "No Cais da Poesia"